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Escritora com deficiência visual lança livro na 36ª Semana Literária do Sesc

“Você me dá duas palavras sobre sua vida e eu faço uma história”, conta a autora sobre seu processo criativo

Publicado em 13/09/2017 às 08:16

Umuarama – A autora Lídia Maria Cardia lança seu primeiro livro de poesias, Apenas Um Minuto, durante a abertura da 36ª Semana Literária & Feira do Livro do Sesc, nesta segunda (18), às 19h30.

A obra é fruto de muito esforço e dedicação, já que Lídia é diagnosticada com baixa visão ou visão subnormal, o que significa que ela apresenta 30% ou menos de visão no melhor olho.

Lídia conta que desde criança convive com o problema, no entanto, isso não foi impedimento para se alfabetizar. “Quando eu tinha uns dois anos, em Prudente, tive um problema de visão, quase fiquei cega, e quando entrei na escola aos sete, não enxergava o quadro negro, mesmo assim minha professora me alfabetizou”.

A autora comenta ainda que quando se mudou para Santo André, São Paulo, não houve escola que a aceitasse, mesmo assim continuou a estudar.  “Eu pegava uma cartilha e comia todas as letrinhas, amava as histórias de Adelaide Carraro, eu tinha uma paixão por ler, e diante da sociedade eu era analfabeta, mas eu tinha prática, eu nunca parei, e assim foi minha trajetória”.

Em 2005 Lídia escreveria o primeiro poema do livro, que acabou dando nome à obra. “Quando eu escrevi Apenas Um Minuto, ainda falei pra minha sobrinha: isso daqui vai dar um livro, mas falei brincando”. Mal sabia a poetisa o que estaria por vir.

Quando Lídia conseguiu, já em Umuarama, uma vaga na Associação de Pais e Amigos de Deficientes Visuais (Apadevi), conheceu a professora Eliane Herrero, que lhe deu mais força para continuar escrevendo. “Num domingo mostrei pra ela uns escritos e ela disse pra eu continuar escrevendo, ela praticamente me obrigou a escrever (risos)”.

Na Apadevi Lídia retornou aos estudos no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos (Ceebeja), pois não tinha completado a 4ª série. Hoje ela está no 3º ano de pedagogia pela Educação A Distância (EAD) na Universidade Paranaense (Unipar), como bolsista, pois obteve alta pontuação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Como Lídia estuda? Tudo tem que ser ampliado, ou no ampliador digital da Apadevi, ou em sua tv de 22 polegadas.

Apesar da trajetória da autora ser de vitória sobre os desafios da vida, seu dia-a-dia ainda é complicado. E não só dela, como explica, mas de todos os deficientes visuais. “Tenho dificuldade para fazer as coisas do cotidiano, mas me habituei; a sociedade não enxerga os deficientes, nós somos invisíveis, não há respeito a acessibilidade, as calçadas são esburacadas e cheias de obstáculos, lixeiras, placas, em lugares que tem senha sempre reclamo porque deveria ter uma aviso sonoro”. E, apesar disso tudo, ainda nos dá uma lição. “É preciso muita coragem e determinação, a pessoa aprende a falar sem ter língua, aprende a ouvir sem ter ouvido, enxergar sem visão, a pegar sem mão”.

Apenas Um Minuto

Sobre seu livro, ela diz que os poemas são baseados em personagens comuns à nossa sociedade. “Nem todos os personagens sou eu, muitas vezes eu narro histórias sobre as mulheres, o que elas vivem, o que passam, os mendigos, as crianças, mãe solteira, os namorados”. E seu processo criativo não espera hora nem lugar. “Escrevo no ônibus rascunhando, nas madrugadas, se eu acordo com aquela intenção, levanto escrevendo e vejo o sol nascer”.

Lídia narrou todos esses fatos com uma voz tão calma e serena que parece não haver indícios de tamanha luta. Enfim, tanto ela, sua história, quanto seus poemas e personagens, devem servir de exemplo e admiração não só para a sociedade umuaramense, mas todo o mundo.

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