Portal da Cidade Umuarama

O CAPA BRANCA

Alunos de Psicologia da Unipar participam de palestra com os autores de livro

Walter Farias, ex-funcionário do Complexo Psiquiátrico do Juquery, e Daniel Navarro Sonim, jornalista, vieram para abrir o Fórum Pedagógico do curso

Publicado em 17/04/2019 às 01:16
Atualizado em

Farias e o jornalista Sonim, autores de ‘O Capa Branca’, na Unipar: livro faz alerta sobre métodos que não deram certo para que não sejam reaplicados (Foto: Assessoria Unipar)

Farias e o jornalista Sonim, autores de ‘O Capa Branca’, na Unipar: livro faz alerta sobre métodos que não deram certo para que não sejam reaplicados (Foto: Assessoria Unipar)

O curso de Psicologia da Universidade Paranaense – Unipar, Unidade de Umuarama, promoveu palestra com os autores do livro ‘O Capa Branca – De funcionário a paciente de um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil’. Walter Farias, ex-funcionário do Complexo Psiquiátrico do Juquery, e Daniel Navarro Sonim, jornalista, vieram a Umuarama especialmente para este propósito. Na obra, Daniel narra as histórias vivenciadas por Walter, que foi capa-branca na década de 70, como eram conhecidos os funcionários em referência ao jaleco usado por eles, após passar em um concurso para atendente de enfermagem.

O Complexo, fundado pelo médico Franco da Rocha, que deu nome à cidade do interior de São Paulo, e com capacidade para oito mil pacientes, tinha por finalidade a reabilitação de pacientes com transtornos mentais. No entanto, informaram os palestrantes, quem não se enquadrava nos padrões de normalidade da sociedade era internado no Juquery, que logo se tornou superlotado, chegando a 16 mil internos, entre eles esquizofrênicos, imigrantes japoneses, presos políticos, pessoas com síndrome de down, prostitutas e mães solteiras. 

Walter conta que presenciou verdadeiras cenas de tortura e muito sofrimento dos pacientes: “Como funcionário do Juquery, fui transferido para a 6ª colônia masculina. Quando chegamos lá, em um grupo de cerca de 50 pessoas, nós virávamos os pacientes na cama e víamos as costas cobertas por feridas, pois não recebiam cuidados higiênicos e não havia limpeza do local”. 

Ele citou que, entre os tratamentos, eram realizados eletrochoqueterapias, banhoterapias, comas insulínicos, lobotomias, camisas de força e medicações sem controle, procedimentos considerados muito violentos. Daniel conta que o livro também relata casos de outros hospitais psiquiátricos do Brasil: “É importante conhecer o que aconteceu no passado, para que os erros não se repitam. 

O Juquery foi um grande campo de testes para evoluir a psiquiatria no Brasil e é um modelo de tratamento que não deu certo. Mesmo assim, ainda hoje existem pessoas que têm interesse em reaplicar esse modelo, ou por que não conhecem a história ou por que acham, simplesmente, convenientes as violências que ocorriam”. Os escritores também lembraram que no complexo ainda ficava o manicômio judiciário, local onde eram internadas pessoas que tinham cometido crimes, diagnosticadas com problemas psiquiátricos. 

E quando Walter questionou sobre não ter passado em concurso para trabalhar no manicômio, foi de funcionário à paciente. “Eu queria voltar para o Hospital Central, pois estava atuando quase como um carcereiro. Quando decidi não participar mais desse sistema, me perseguiram e acabei me tornando um paciente, passando por tudo o que os pacientes do Juquery passavam. Eu fiquei preso em uma cela, apenas com uma janelinha por onde ficavam me observando”, relata. O Juquery começou a ser desativado na década de 90. 

Em 2001 foi aprovada a Lei Federal da Reforma Psiquiátrica, com diretrizes que apontavam para a humanização do tratamento por meio dos CAPS (Centros de Apoio Psicossocial).


Fonte:

Deixe seu comentário