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MPPR auxilia família de Umuarama a vencer os mitos da adoção tardia

Elisângela Figueiredo Brito Claus e Lucas Batista Gelini Claus se tornaram pais de duas adolescentes. Dia da Adoção foi celebrado nesta segunda-feira (25)

Publicado em 26/05/2020 às 04:50
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Mesmo em novo cenário, adoção tardia permanece como grande desafio (Foto: Arquivo Pessoal)

O mundo está diferente por causa da pandemia de Covid-19, e a situação de crianças e adolescentes que estão em casas de acolhimento à espera de um lar também sofreu mudanças. Esse cenário trouxe impactos negativos, como a maior dificuldade para finalizar o cadastramento de novos pretendentes, mas também reflexos positivos, como a oportunidade para que pessoas que já estão na lista de espera revejam conceitos e se abram para a possibilidade da chamada adoção tardia, que ocorre com crianças maiores ou com adolescentes.

No Paraná, há 524 meninos e meninas cadastrados para adoção, 234 dos quais sem pretendentes manifestos. Os dados são do Cadastro Nacional de Adoção, coletados em 22 de maio de 2020. Por outro lado, há 2.969 pretendentes na lista de espera por um filho ou filha. Em tese, portanto, poderia haver mais de dez pretendentes para cada criança ou adolescente apto para adoção, mas sem interessados. Entretanto, essa é uma conta que não fecha, porque a grande maioria das pessoas deseja adotar bebês ou crianças bem pequenas. 

Por isso, neste Dia Nacional da Adoção, mesmo em um contexto totalmente diferente, o grande desafio de quem trabalha para encontrar famílias substitutas para crianças e adolescentes, como os integrantes do Ministério Público do Paraná, continua sendo o mesmo: ajudar quem está praticamente fadado a passar boa parte da infância e da adolescência sem sentir o carinho de uma família e com a incerteza do que acontecerá quando eles completarem 18 anos e tiverem que deixar as instituições de acolhimento.

“Como defensor dos interesses sociais e individuais indisponíveis, cabe ao Ministério Público, em conjunto com a rede de proteção infantojuvenil, buscar a construção de caminhos que possibilitem que as crianças e os adolescentes que se encontram em instituições de acolhimento e aptos à adoção tenham um lar, o carinho de uma família, o amor e o aconchego que toda criança e adolescente precisam, para ter um futuro melhor e uma vida mais feliz. Para tanto, é muito importante a sensibilização da sociedade a respeito do tema”, afirma o procurador-geral de Justiça, Gilberto Giacoia. 

Fim da Espera

Felizmente, muitas pessoas estão se abrindo à mudança do perfil do filho ou filha desejados. Esse é o caso de Elisângela Figueiredo Brito Claus, auxiliar de escritório, de 39 anos, e de seu marido, Lucas Batista Gelini Claus, motorista, de 40 anos, moradores de Umuarama. Como muitas mulheres que partem para a adoção, Elisangela tentou antes ter um filho natural, mas as gestações não evoluíram. O casal resolveu então partir para a adoção – queriam um bebê de até seis meses. Foram cinco anos de espera, até que começaram a rever o perfil e aceitaram a ideia de adotar uma criança um pouco maior.

Ao mudar o perfil no cadastro, foram convidados a conhecer o aplicativo “A.dot”, destinado apenas a pretendentes à adoção já cadastrados regularmente e onde é possível conhecer meninas e meninos que esperam uma família substituta. Olhando as imagens, aconteceu algo que eles não esperavam: encantaram-se por uma adolescente, na época com 14 anos, que estava acolhida em Araucária. Assistindo ao vídeo dela, descobriram que aquela poderia perfeitamente ser a filha que tanto esperavam. Outra descoberta veio em seguida: ela tinha uma irmã um ano mais velha, e sua condição era serem adotadas juntas. Olharam o vídeo da outra menina, e a identificação também foi imediata. Mesmo assim, ficaram um tempo pensando, ouviram opiniões de familiares, procuraram informações sobre a adoção tardia e, enfim, tomaram a decisão de se candidatarem para adotar as duas. 

O processo correu normalmente, e há um ano e meio se tornaram pais de Natália e Nataly, hoje com 15 e 17 anos. Segundo Elisangela, um dos momentos mais marcantes foi quando, após um ano de convivência, as meninas passaram a chamá-los de mãe e pai. “Hoje é rotina ouvi-las falarem mãe e pai, mas nas primeiras vezes foi algo muito emocionante. Eu ficava pensando: será que estão falando comigo mesmo? Mãe? [risos].” E as dificuldades de adaptação? “Não vou mentir e dizer que tudo foi fácil. Tivemos momentos difíceis, mas nada diferente do que enfrentaríamos se elas fossem nossas filhas biológicas. O diálogo foi o caminho que encontramos, e que ainda hoje usamos, para resolver todos os problemas que surgem. A gente senta, cada um fala o que pensa, o que sente, e sempre temos encontrado uma solução”, conta Elisangela, que é grata também pelo apoio e aconselhamento da equipe do Juizado, que se fez presente sempre que necessário. Hoje, ela sente como se a adoção tivesse ocorrido há muito tempo e como se os quatro sempre tivessem sido uma família. “Estamos felizes, completos, realizados como pais”, conclui. 

Esperança de mudança

O promotor de Justiça David Kerber de Aguiar, que atua em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, acompanhou o processo de adoção das duas adolescentes. Para ele, efetivamente, a adoção tardia ainda é um grande desafio, mas ele comenta que hoje há mais pessoas que estão se abrindo para essa oportunidade que se coloca tanto para meninos e meninas em acolhimento quanto para aqueles que podem encontrar a realização como pais adotando crianças mais velhas e adolescentes. 

A promotora de Justiça Luciana Linero, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Criança e do Adolescente, unidade do MPPR, comenta que os pretendentes a adoção no Brasil sempre tiveram preferência por bebês e crianças pequenas. Essa restrição, porém, começa a mudar. “Temos avançado na colocação de crianças maiores e até mesmo adolescentes em adoção. E também grupos de irmãos. O quadro tem se alterado com estratégias de aproximação dos pretendentes com as crianças e adolescentes aptos à adoção, pela divulgação de vídeos, cartas e imagens desses meninos e meninas. Também contribuem estratégias de encontros festivos realizados com a intermediação de grupos de apoio à adoção e de equipes técnicas dos Juizados da Infância e das instituições de acolhimento”, explica.

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