Portal da Cidade Umuarama

Exemplo

Se inspire no senhor Manoel, que aos 79 anos, vende laranjas em Umuarama

O sorriso é gratuito, e a fé evita o desânimo deste homem que carrega até 30 quilos de laranja nas costas em busca do sustento da família

Publicado em 06/11/2019 às 23:23
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Manoel Moreira de Carvalho percorre quilômetros e quilômetros todos os dias entre ruas e avenidas da Capital da Amizade vendendo laranjas (Foto: Portal da Cidade Umuarama)

Basta uma breve conversa com o paraibano Manoel Moreira de Carvalho, de 79 anos, para se notar a fibra nordestina. Negando-se a se entregar às mazelas da velhice, ele percorre quilômetros e quilômetros todos os dias entre ruas e avenidas da Capital da Amizade vendendo laranjas.

A roupa branca, usada simplesmente pelo amor à cor, desvia os olhares dos transeuntes ao saco de 30 quilos que ele leva nas costas e que é responsável por armazenar os invólucros com laranjas. Agricultor de nascimento, umuaramense por opção há 52 anos, Carvalho criou seis filhos e a esposa com os frutos da terra.

Já nas primeiras horas do dia, ele sai de sua pequena propriedade rural na Estrada União, passa na casa da filha, na região central de Umuarama, pega as laranjas e vai à luta a pé. “Às vezes trabalho até meia noite, tem dias que vendo até 30 sacos de laranjas”, revela em meio a sorrisos – uma marca registrada do trabalhador.

A venda é apenas interrompida quando a lavoura de mandioca clama pela atenção do paraibano. Aliás, os recursos oriundos da terra sempre alimentaram a família. “Conquistei esse pedaço de terra trabalhando no cultivo de algodão em Nova Olímpia (...) e sempre vendi a minha produção [frutas, verduras e legumes] na cidade”, destaca.

"O que me chama atenção é a disposição apesar da idade, sempre alegre, sorrindo, não reclama de nada", personal trainer Bruna Gambarim, de 34 anos, uma das clientes do senhor Manoel

Os pedidos pelas conquistas sempre foram feitas de joelhos a Deus, alega o homem de extrema fé. Para ele, qualquer batalha é vencida com o apoio do criador maior, recordando que fases econômicas ruins como foi a era Collor e, principalmente, a doença da mulher, foram vencidas com dois remédios: coragem para trabalhar e fé, muita fé. O comportamento também se explica por um velho ditado que ele faz questão de ter em “papel dobrado e guardado na memória”: “A vida é dura para quem é mole”, diz ele.

Humildade

E por falar na fé, Deus escreve certo por linhas tortas, por isso, talvez a falta de um canudo universitário proporcionou ao longínquo trabalhador a falta de vaidade. Analfabeto confesso, vítima da inoperância do Estado, Carvalho consegue soletrar as letras da palavra superação. “Minha mulher tem diabetes, às vezes gasto mil reais apenas com exames, sem contar os medicamentos, e a aposentadoria não dá, preciso cuidar da minha família e se eu viver até os 100 anos, eu estarei trabalhando”, afirma.

Reconhecido

De cima de sua bicicleta, veículo usado para vender sua produção agrícola, Carvalho viu a transformação de Umuarama, antes uma cidade com poucas praças e ruas, em um município de significativo porte, ideal para morar e com pessoas que, hoje, abraçam a garra deste simpático vendedor de laranjas, que até impressiona os mais aguerridos lutadores.

“Toda quinta ele aparece aqui, e eu, professores, alunos, compramos as laranjas dele. O que me chama atenção é a disposição apesar da idade, sempre alegre, sorrindo, não reclama de nada. E faça sol ou chuva, ele aparece com o saco de laranjas”, fala, a personal trainer, Bruna Gambarim, de 34 anos, sobre as passagens do vendedor de laranjas pela academia onde ela trabalha.

Ah, sim, e a bicicleta? Por que ele não usa? Seria mais fácil a vida do senhor Manoel com ela? Ele infelizmente perdeu a “magrela” em um acidente, já algum tempo, em uma de suas vindas ao trabalho de vendas em Umuarama. Um caminhão o derrubou, o que gerou nele receio pelo uso deste tipo de transporte, e além do mais a bicicleta acabou sumindo após o acidente. “Fui levado para o médico e não sei se a polícia [rodoviária] levou, mas eu continuo caminhando, andando e lutando”, conclui.


“As pessoas chegam a mim e pedem: ‘doutor, eu quero uma consulta’. Eu digo, onde vocês já viram médicos vendendo laranjas”, senhor Manoel, sobre as brincadeiras que recebe pelo fato de trabalhar de branco. “Me divirto muito”. 

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