Portal da Cidade Umuarama

Eternamente

Na memória da vida, Tuti é uma energia que Umuarama guardará para sempre

Em cada recordação, a família Rosolem mantém o legado de Rosileny, transformando a dor da perda em trabalho e celebração constante de sua vida

Publicado em 13/05/2025 às 17:56
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A memória de Tuti se perpetua através do carinho e da dedicação de sua família, que a homenageia mantendo seu espírito vivo em Umuarama (Foto: Arquivo pessoal)

O sol se deita lentamente sobre a praia enquanto a família Rosolem se posiciona para mais uma fotografia. Fátima, a mãe, ajeita com delicadeza a gola da camisa do marido, Abílio, enquanto tenta manter tudo em ordem apesar da brisa que insiste em brincar com os cabelos das filhas.

As pequenas correm pela areia, rindo: Beta, a caçula, ainda encantada com o mar, e Tuti, a do meio, cheia de energia e alegria. Ao lado delas, Rosany, a mais velha, observa a cena com um sorriso tão calmo quanto as ondas daquela tarde.

Por trás da câmera, uma voz conta até três. A imagem se forma. Um daqueles retratos simples e felizes que, com o tempo, tornam-se joias da memória e refúgio de um momento que não existe mais.

Hoje, o Portal da Cidade Umuarama relembra a história de Rosileny Rosolem, a Tuti. Esta matéria busca celebrar o brilho de uma jovem que, mesmo após sua partida precoce, permanece viva nas anotações que deixou, no amor inabalável da mãe Fátima e no carinho da irmã Beta, que transformaram saudade em presença, e a memória em legado.


“Vamos pensar nos outros. Fazer uma pessoa feliz, fazer tudo de bom neste mundo, pois nunca vamos perder nada, só ganhar.”

Ainda muito jovem, Tuti escreveu essas palavras em uma folha simples, sem imaginar que, anos depois, elas se tornariam uma bússola em forma de texto. Nascida em 8 de agosto de 1974, Tuti cresceu em meio à movimentação da loja de sua mãe, Fátima. Já naquela época, assumia responsabilidades com maturidade incomum: ajudava nas compras em São Paulo, atendia clientes e era o braço direito da mãe.

Líder na escola, ativa na igreja e cheia de vida, Tuti era, segundo a família, “aquela filha que toda mãe sonha em ter”. Além do envolvimento com a família e o comércio, Tuti também se destacava na escola e na comunidade religiosa. Muito antes da explosão dos movimentos carismáticos e acampamentos religiosos em todo o país, Tuti já frequentava retiros.

Participava das atividades no Grupo Canaã (Santuário Perpétuo Socorro), lia a Bíblia com atenção e paixão. “A Bíblia dela é cheia de marcações, beijos, grifos, anotações…” conta Fátima. No colégio em que cursava o terceiro ano do ensino médio, era conhecida por sua energia. “Ela era líder de sala, se envolvia com tudo, jogava, corria, ajudava. Era difícil alguém não gostar da Tuti.”

A frase que Tuti escreveu, e que nomeia este tópico, reflete a essência de sua vida. A constante busca por fazer o bem, por espalhar felicidade sem esperar nada em troca. Inocente, uma criança feliz. A convicção de que “nunca vamos perder nada, só ganhar” permeava cada aspecto de sua existência.

Ela não se limitava a ajudar os outros apenas em palavras; suas ações estavam sempre voltadas ao próximo, seja no comércio da mãe, na escola ou em sua igreja. Tuti sabia que a verdadeira riqueza estava na generosidade e no impacto positivo que deixamos nas vidas de quem cruza o nosso caminho.


“Tudo o que é bom dura o suficiente para se tornar inesquecível”

O perfume Thaty, lançado em 1980, carrega consigo uma aura de nostalgia. Com suas notas de lavanda, eucalipto, gerânio, rosa e almíscar, ele não é apenas uma fragrância; é uma memória viva, quase como um vínculo invisível entre as pessoas e os momentos que marcam suas vidas. Para Fátima, mãe de Tuti, esse perfume representava mais do que um aroma. Era o cheiro da presença constante de sua filha, uma presença que parecia sempre caminhar ao seu lado, não importa onde estivesse.

Fátima lembra com carinho que, onde quer que Tuti fosse, o cheiro do perfume a acompanhava, como se houvesse um caminho invisível, mas inconfundível, que levava até ela. “Era o perfume que ela mais usava, e onde ela estava, o cheiro estava junto”, diz Fátima, como se pudesse ainda sentir o toque daquele perfume no ar.

Anteriormente, comentamos sobre Tuti ser uma jovem cheia de energia, fé e carisma. O perfume Thaty, além de rimar com seu nome, parecia combinar perfeitamente com suas características, como se ele fosse a extensão de sua vitalidade. Para Fátima, aquele cheiro se tornaria um símbolo eterno do amor maternal e da relação profunda entre mãe e filha.

No meio de tantas recordações e emoções que permeiam a entrevista, um detalhe curioso e comovente vem à tona: com receio de que um dia o produto fosse descontinuado, Fátima passou a comprar o perfume constantemente, garantindo que sempre pudesse manter viva uma parte daquilo que a fazia lembrar da filha.

E assim como diz a frase de Tuti, tudo o que é bom dura o suficiente para se tornar inesquecível. Não é um perfume, um cheiro, é um elo entre o passado e o presente. Mesmo quando as coisas físicas se vão, o aroma que Fátima guardou em frascos, como uma preciosa lembrança, se mantém intacto no coração, tornando-se eterno, assim como o vínculo que ela e Tuti sempre compartilharam.


“À minha irmã Roberta… Que Deus te dê muita saúde para que você possa alcançar seus objetivos — 12/09/89”

Existe um senso comum que atravessa gerações: irmãos caçulas são travessos, barulhentos e especialistas em provocar. Estão sempre ali, à espreita, prontos para bagunçar o quarto do mais velho, fuçar diários ou interromper conversas importantes com alguma brincadeira sem graça. São vistos como pequenos furacões dentro da rotina familiar, despertando tanto risadas quanto raiva.

Mas nem todo caçula segue esse roteiro. Roberta, irmã mais nova de Tuti, guarda lembranças marcadas por pequenos gestos de cuidado que só os irmãos verdadeiramente próximos oferecem um ao outro. Ao folhear os antigos álbuns de fotos, ela é transportada para noites no quarto que dividiam, momentos de conversa antes de dormir, viagens em família e até mesmo as massagens nas costas feitas por Tuti.

Fátima, a mãe, e Roberta, a irmã caçula

“Era tão simples e era tão bom”, diz Roberta, com a voz embargada pela memória desses dias que hoje parecem ainda mais preciosos. Pelo teor do texto, infelizmente se torna previsível imaginar o que ocorreria. As lágrimas, os substantivos e adjetivos no passado… Apesar disso — das dificuldades trazidas pelo acaso da vida, do processo de reaprender a dar um novo significado, como diz Roberta, e da dor da perda — em seus escritos, Tuti ainda está lá, olhando para a irmã.

Há algo de eterno na forma como ela se faz presente, mesmo nas ausências. Numa terça-feira, 12 de setembro de 1989, Tuti escreveu essas palavras com carinho e esperança. Numa segunda-feira, também dia 12, Beta revisitou as memórias e emoções que a irmã lhe deixou. E foi numa terça-feira, de novo, que este texto foi redigido — como se os dias também conspirassem para manter vivo o amor entre ambas.


“Onde você estiver, não esqueça de mim”

Naquele fim de domingo, mais uma vez o sol derramava seus últimos raios dourados, tal como o começo na praia, mas agora sobre o asfalto quente. Tuti levou a garrafinha de refrigerante aos lábios e riu de algo. Os carros passavam em alta velocidade à sua frente, cortando o vento com um rugido que ecoava como um chamado de liberdade.

Ela observava tudo com aquele brilho curioso nos olhos — um olhar que misturava alegria, deslumbramento e um leve desafio à vida. A luz batia em seu rosto como se quisesse eternizar aquele instante. Era março de 1991. Naquele dia, fora a um evento de automobilismo, cercada por amigos, risos e o fascínio pelos motores.

Mas o retorno para casa, em direção a Umuarama, mudaria tudo. E embora os detalhes do acidente sejam marcados por uma brutalidade que ninguém deveria presenciar, eles jamais conseguiram apagar a delicadeza de quem foi Tuti. Em uma curva entre o entusiasmo e o destino, o tempo decidiu levá-la.

Quando Fátima relembra a filha, a voz embarga, mas não treme. Há algo firme na forma como ela conta que, onde quer que Tuti estivesse, o perfume a precedia — como se dissesse: “eu estou aqui, mãe”. E está. Está nos dias comuns, no cheiro inesperado que invade uma sala, como se viessem de outro lugar. Para Roberta, o luto, como ela aprendeu, não é uma ausência definitiva, mas uma mudança de endereço da presença.

Como forma de manter viva essa presença tão marcante, Abílio e Fátima encontraram um jeito singular de homenagear a filha: abriram uma loja que leva seu nome, a Tuti Country Modas. Lá, entre botas de couro, fivelas brilhantes, chapéus estilosos e o charme rústico da moda country — uma de suas grandes paixões. O espírito aventureiro que ela carregava pulsa em cada detalhe, em cada escolha.

Sua memória, como sua essência, permanece viva. E assim, ao nomeá-la em letras visíveis e ao dar continuidade ao que ela amava, os pais respondem, dia após dia, ao pedido que ela deixou no papel e no coração: “Onde você estiver, não esqueça de mim.” Eles não esqueceram. E ninguém esquecerá.

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